A Quarta-Feira de Cinzas representa o primeiro dia da Quaresma no calendário gregoriano, também podendo ser chamada de Dia de Cinzas e é uma data com significado muito especial para os cristãos.
PASCOM PSJVZ por: Amarildo B. – 17/02/2021 DESTAQUE ESPECIAL, QUARESMA, QUARTA-FEIRA DE CINZAS
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Quarta-feira de Cinzas, o jejum e a abstinência
As cinzas nos recordam a passageira fragilidade da vida humana, sujeita à morte e é um símbolo do dever de conversão e de mudança de vida, que marcam o período, a fim de que tenhamos uma verdadeira preparação para viver os mistérios da Paixão, morte e Ressurreição de Cristo na Semana Santa.
A tradição de impor a cinza é da Igreja primitiva. Naquela época, as pessoas colocavam as cinzas na cabeça e se apresentavam ante a comunidade com um “hábito penitencial” para receber o Sacramento da Reconciliação na Quinta-feira Santa.
A Quaresma adquiriu um sentido penitencial para todos os cristãos quase 400 anos d.C. e, a partir do século XI, a Igreja de Roma impõe as cinzas no início deste tempo.
Segundo o Diretório sobre a piedade popular e liturgia, artigo 125:
“O começo dos quarenta dias de penitência, no Rito romano, caracteriza-se pelo austero símbolo das Cinzas, que caracteriza a Liturgia da Quarta-feira de Cinzas. Próprio dos antigos ritos nos quais os pecadores convertidos se submetiam à penitência canônica, o gesto de cobrir-se com cinza tem o sentido de reconhecer a própria fragilidade e mortalidade, que precisa ser redimida pela misericórdia de Deus. Este não era um gesto puramente exterior, a Igreja o conservou como sinal da atitude do coração penitente que cada batizado é chamado a assumir no itinerário quaresmal. Devem ajudar aos fiéis, que vão receber as Cinzas, para que aprendam o significado interior que este gesto tem, que abre a cada pessoa a conversão e ao esforço da renovação pascal”.
As cinzas utilizadas neste ritual provêm da queima dos ramos abençoados no Domingo de Ramos do ano anterior, com a aspersão da água benta. A imposição das cinzas acontece durante a Santa Missa, após a homilia e é permitido que o sacerdote seja auxiliado por leigos. Quem ministra as cinzas sinaliza uma cruz na fronte de cada fiel. A fórmula usada no rito nos recorda a passagem do livro do Gênesis: “És pó e ao pó voltarás (Gn 3, 19) e a palavra de ordem da imposição das cinzas é “convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc, 1, 15). Excepcionalmente, no ano de 2021, por conta da pandemia do COVID-19, o rito das Cinzas será adaptado, conforme orientação do Vaticano.
A Quarta-feira de Cinzas não é dia de preceito e, portanto, não é obrigatória. Não obstante, nesse dia muitas pessoas costumam participar da Santa Missa, algo que sempre é recomendável.
Em situações onde não há a presença de sacerdote, a imposição das cinzas pode ser realizada de forma extraordinária, sem a celebração da Santa Missa, mas é recomendável que haja ao menos a participação na liturgia da palavra.
Qualquer pessoa pode receber este sacramental, inclusive as não católicas. Como explica o Catecismo da Igreja Católica, (1670 ss.) “sacramentais não conferem a graça do Espírito Santo à maneira dos sacramentos; mas, pela oração da Igreja, preparam para receber a graça e dispõem para cooperar com ela”.
Não existe um tempo determinado para o fiel permanecer com as cinzas em sua fronte. Há um costume de deixar até o por do sol, antes de lavar o rosto e os cabelos, mas não há determinação neste sentido.
Jejum e abstinência
A Quarta Feira de Cinzas, assim como a Sexta-Feira Santa são dias de jejum e abstinência obrigatórios, e este assunto gera bastante dúvidas entre os cristãos, apesar de fazerem parte do Quarto Mandamento da Igreja.
O jejum consiste no sacrifício de renunciar às refeições normais, limitando-as ao básico. Ele é obrigatório para os fiéis entre 18 e 60 anos, devendo ser levadas em conta as exceções por motivo de saúde.
Não é preciso ficar apenas no pão e água: pode-se fazer uma refeição principal (almoço ou jantar) e comer um pouco nas outras duas, desde que as duas juntas não equivalham a uma refeição completa. Esta é a sugestão mais recomendável, segundo a prudência, a quem não está acostumado a jejuar, pois um jejum mais radical pode ser prejudicial à saúde. A figura abaixo nos mostra que existem várias formas de jejuar, de acordo com a condição de cada pessoa.
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Como escreveu recentemente D. Edmar Peron, que foi bispo de nossa Região Belém, o jejum está presente nas grandes religiões, como o Ramadã dos muçulmanos e o Dia do Perdão dos judeus.
O abster-se de comida e bebida tem com como fim introduzir na existência do homem não somente o equilíbrio necessário, mas também o desprendimento do consumismo que impera na sociedade. Infelizmente, atualmente se valoriza a quantidade e não a qualidade e cada vez somos incentivados a ter não somente os bens materiais para que nos sirvam para desenvolver as atividades criativas e úteis, mas cada vez mais para satisfazer os sentidos, promover a ostentação, o prazer. Com isso, o jejum não é uma renúncia pela renúncia: mas para um melhor domínio de si mesmo, voltado a viver os valores de Deus.
Além disso, novamente citando D. Edmar, “o jejum pode adquirir uma dimensão de fraternidade, pois nos une solidariamente aos milhões de pessoas que passam fome no mundo. O jejum, a nos colocar no caminho da pobreza e da privação, desperta nossos corações para realizar gestos concretos de amor em favor da pessoa que sofre, como fez o bom samaritano. Ao fazer a experiência da pobreza assumida, quem jejua se faz pobre com os pobres e acumula a riqueza do amor recebido e partilhado.”
Já a abstinência consiste em não comer carne de animais de sangue quente, nem molhos ou sopas à base dessas carnes. Por isso é que o pescado é permitido em sua substituição. Ela é obrigatória para os fiéis a partir dos 14 anos de idade, não somente na Quarta-Feira de Cinzas e na Sexta-Feira Santa, mas se estende a TODAS as sextas-feiras do ano, a não ser que elas coincidam com alguma solenidade (como será no próximo dia 19 de março, dia de São José).
Por autorização da Santa Sé, as conferências episcopais podem estabelecer condições para substituir a obrigatoriedade da abstinência de acordo com as diversas realidades locais. Aqui no Brasil, é possível substituir a abstinência pela participação na Santa Missa ou pela realização de obras de caridade, ações piedosas e exercícios devocionais, como, por exemplo, a meditação da Via Sacra ou a reza do Terço.
É muito comum nesta época do ano aparecerem alguns posts nas redes sociais com montagem com o Papa Francisco ou com o Padre Fábio de Melo dizendo que fazer abstinência de chocolate, refrigerante, etc., não muda nada no mundo e que o jejum ideal é de fofocas, maldade, etc. Até em algumas homilias e reflexões, embora com boa intenção, acaba-se passando esta impressão, que pode confundir os fiéis.
Não fazer fofoca, ser uma boa pessoa, é obrigação de qualquer cristão, o ano inteiro e não somente na quaresma. Jejum e abstinência são preceitos que nos ajudam a viver melhor este período e com isso (além da oração e da caridade), ter uma boa preparação para a Páscoa e para a vida e, por isso, deve ser observado por todos nós.
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