PARA CONHECER MELHOR A BÍBLIA
Iniciamos o mês de setembro, que, tradicionalmente é dedicado à Palavra de Deus. Para bem viver este período, este texto traz algumas curiosidades sobre a Bíblia, inclusive para explicar porque setembro é o Mês da Bíblia.
Origem da Bíblia
Existe uma piada contada por um padre famoso nas redes sociais que fala que algumas pessoas leem a Bíblia como se ela tivesse caído pronta do céu, com zíper e tudo.
A Bíblia não é um único livro, escrito por uma só pessoa, em um só tempo, mas é um conjunto de livros que fala da ação de Deus na vida do homem, que foi se concretizando com a caminhada do povo. O termo bíblia, em grego, designa um conjunto de livros.
O conteúdo da Bíblia, incialmente, era passado por meio da tradição oral, de pai pra filho, até se firmarem em documentos escritos. Estudos mais recentes apontam que a escrita da Bíblia se iniciou por volta do século XIII antes de Cristo, com a codificação das tradições orais e escritas de Israel, sendo realizados acréscimos ao longo dos séculos, pelo povo judeu, sem uma preocupação com a catalogação desses livros. O último livro do Antigo Testamento, o Livro da Sabedoria, teria sido escrito por volta de 50 a.C. Já o Novo Testamento foi escrito a partir do ano 50 d.C, com a Carta aos Tessalonicenses.
A maioria dos livros do Antigo Testamento foi escrito em hebraico, sendo que alguns trechos do Antigo Testamento foram escritos em aramaico e alguns livros em grego. O Novo Testamento foi inteiramente escrito originalmente em grego.
Em 1947, foi encontrada em uma caverna na Cisjordânia, às margens do Mar Morto, um conjunto de manuscritos (pergaminhos e fragmentos de textos, inclusive um rolo com o livro do profeta Isaías em aramaico) que é a versão mais antiga do Antigo Testamento que se tem preservada (escrita aproximadamente entre o Século III a.C e 70 d.C.), sendo que textos destes mesmos livros, escritos quase mil anos depois, tinham o conteúdo praticamente idêntico.
Diferenças entre bíblias
Aproveitando a menção aos idiomas da Bíblia, vamos tratar de um tema polêmico. Com o surgimento dos livros do Novo Testamento, no século I d.C, parte dos judeus, ligados ao partido dos fariseus, com a finalidade de se afastar do cristianismo (visto como heresia e blasfêmia por eles), estabeleceu, no Sínodo de Jâmnia (sul da Palestina), os critérios para considerar um livro sagrado (inspirado por Deus). Segundo este grupo de judeus, o livro, para ser sagrado:
- não poderia ter sido escrito fora da terra de Israel;
-
deveria ter sido escrito somente em hebraico (afastando o aramaico e o grego)
-
não poderia ser escrito depois de Esdras (458-428 a.C)
-
não poderia contrapor a Torá ou a Lei de Moisés.
Com isso, os demais livros passaram a não ser mais reconhecidos como inspirados. Ocorre que desde os séculos III e II antes de Cristo, existia uma tradução dos livros do Antigo Testamento para o grego com a finalidade de ajudar os judeus que viviam fora da Palestina, em especial, em Alexandria no Egito, considerando que o grego era o idioma mais utilizado na época, por conta do domínio do Império da Macedônia, de Alexandre o Grande. Essa versão, chamada de versão dos Setenta ou Septuaginta (por ter sido feito por setenta sábios), continha os livros escritos em hebraico, mais os trechos em aramaico, e os Livros de Tobias, Judite, Sabedoria, Baruc, Eclesiástico, 1º e 2º Livro dos Macabeus e trechos do Livro de Ester e de Daniel.
Referida versão era amplamente utilizada na época de Jesus e há cerca de 150 citações a esses livros no Novo Testamento, o que mostra que era a versão utilizada pelos Apóstolos e Evangelistas e seus discípulos. Com isso, embora tenha havido certa discussão para considerar tais livros como inspirados, em quatro concílios (Roma em 382, Hipona em 393, Cartago em 397 e Trento em 1546) foi reconhecido pela Igreja a validade da versão de Alexandria para o Antigo Testamento.
Com a Reforma Protestante, Lutero e seus seguidores passaram a alegar que a Igreja Católica deturpou a lista dos livros canônicos, passando a adotar a lista dos judeus, apesar do critério nacionalista utilizado em Jâmnia e da evidente correlação destes livros com a doutrina cristã e sua utilização nos ritos da Igreja por mais de onze séculos.
Por conta desta questão, a Bíblia Católica possui 73 livros e a protestante, 66.
No Século II de nossa era, já haviam traduções diversas da Bíblia, o que fez com que, aos poucos, surgisse a ideia de uma tradução que servisse de base para o culto de todas as comunidades cristãs, em todos os lugares. Em 384, o papa Dâmaso pediu a seu secretário, Jerônimo, uma revisão do Novo Testamento escrito em Latim. Jerônimo passou a estudar hebraico e aramaico, chegou a viver em Belém, fez uma revisão do texto latino do Novo Testamento comparando-a com textos em grego e o fruto deste trabalho é chamado de Vulgata (“versão comum”). Por muitos séculos, a Vulgata foi o texto oficial das
celebrações da Igreja. Por conta deste grande trabalho de pesquisa, e pelo fato da memória de São Jerônimo ser celebrada em 30 de setembro, que este dia ficou também marcado como o Dia da Bíblia e setembro, o mês dedicado à Palavra de Deus.
Algumas versões antigas de bíblias católicas são traduções diretas da Vulgata. As versões mais modernas são traduções diretas dos textos em hebraico, aramaico e grego, com uma tradução mais fiel ao contexto original.
Também há diversos livros não reconhecidos como inspirados, chamados de apócrifos. Enquanto alguns desses contém verdadeiras lendas sem qualquer relação com os ensinamentos de Cristo e os demais livros bíblicos, alguns servem de referências históricas e até um maior detalhamento sobre personagens pouco descritos nos livros canônicos (oficiais).
Organização da Bíblia
Conforme falamos acima, a Bíblia se divide em 73 livros, em duas grandes partes, o Antigo Testamento (com 46 livros) e o Novo Testamento (com 27 livros). Mas existem outras divisões úteis para entender melhor a organização da Bíblia e para auxiliar quem deseja fazer seu estudo.
No Antigo Testamento, temos o Pentateuco, que é o conjunto dos cinco primeiros livros da Bíblia (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), que também formam a Torá judaica. Também há os Livros Históricos, os Livros Proféticos e os Livros Sapienciais.
Já no Novo Testamento, temos os Evangelhos (quatro livros que narram a vida de Jesus), Atos dos Apóstolos, com a história da Igreja nascente as Cartas Apostólicas, as Cartas Pastorais e o Apocalipse.
A Bíblia também se divide em capítulos e versículos para facilitar a leitura e localização dos textos. Imagine achar a oração do Pai Nosso dentro de toda a Bíblia sem a referência de que está no Evangelho de São Mateus, capítulo 6, versículos de 9 a 13?
Estudo da Bíblia
Há vários roteiros de estudo bíblico, cada um adequado ao nível de conhecimento do fiel. De um modo geral, a boa leitura bíblica é aquela que é feita considerando o contexto de sua escrita e também com o intuito de trazer o que Deus quer dizer para nós. Uma leitura orante, ou seja, precedida de oração, para que o Espírito Santo ilumine o leitor, para que ele, ao se deparar com o conteúdo do texto bíblico, não faça uma leitura fundamentalista, levando tudo ao pé da letra. Há um jogo de palavras que resume bem a questão: Ler um texto fora do contexto, é pretexto. Infelizmente temos visto muitas pessoas sacar um versículo bíblico em discussões para utilizá-lo de forma incompatível com a situação.
Não podemos nos esquecer, ainda, que em toda celebração da Santa Missa, fazemos uma leitura da Palavra de Deus. Aos domingos, temos quatro leituras, sendo a primeira leitura, geralmente do Antigo Testamento, um Salmo (livro sapiencial, com cânticos), a segunda leitura, do Novo Testamento e o Evangelho, de acordo com o Tempo Litúrgico. A homilia nos ajuda a entender melhor os textos e trazê-los para a nossa vida.
Esse texto não pretende esgotar o assunto, mas ser um convite para que você busque cada vez mais conhecer a Bíblia, um dos fundamentos de nossa fé, e busque viver sua vida de acordo com esses ensinamentos.
Há muitos artigos na internet (nas páginas oficiais e reconhecidas pela Igreja) e livros que podem ajudar quem deseja conhecer mais um pouco sobre a Bíblia. E você pode acompanhar as redes da Paróquia, porque nós da PASCOM também buscamos, sempre que possível, trazer conteúdos de formação para nossa comunidade.