Deus, em sua presença amorosa e providencial, sustenta-nos e nos torna capazes para a vida nos vários aspectos de sua realização, incluindo as nossas vocações pessoais e as nossas relações interpessoais, aptidões fundamentais que favorecem a nossa integridade de homens e mulheres, integridade essa que se plenifica em vista do bem comum de toda a humanidade, para além das barreiras religiosas, sociais, étnicas e culturais.
Como pessoas de fé, cresce em nós a consciência de que tudo ao nosso redor remete ao amor generoso do Pai, que nos doa os bens da natureza, para que deles desfrutemos com responsabilidade e cuidado devidos, sempre em comunhão com toda a criação.
Assim, em sinal de nossa gratidão, oferecemos a Deus, junto à comunidade de fé, o fruto do nosso trabalho – nosso dízimo. O dízimo é, portanto, um convite à generosidade, à fraternidade e à solidariedade. A contribuição de cada cristão é a pratica de um dom e não o pagamento de uma conta: “Dê cada um conforme o impulso do seu coração, sem tristeza nem constrangimento. Deus ama a quem dá com alegria” (2Cor 9,7). Na generosidade de nossa oferta, assumimos o compromisso com o Reino de Deus, que precisa ser anunciado em todos os lugares e a todas as pessoas. Nesse sentido, o dízimo é aplicado em três importantes dimensões: a religiosa, a missionária e a social.
O compromisso cristão em relação ao dízimo deve significar mais que uma contribuição, deve espelhar a nossa responsabilidade e o nosso comprometimento com a nossa comunidade de fé. Nesse sentido, deve se assemelhar ao modo como nos organizamos em nossa casa, sempre buscando meios para suprirmos as necessidades familiares, de modo fraterno e com a participação de todos. “Os discípulos se recordam do que está escrito: ‘O zelo por tua casa me devora”’ (Jo 2,17). Esse zelo, entre outras coisas, precisa manifestar o cuidado dos fiéis no atendimento das necessidades e urgências pastorais da sua comunidade. A partir do dízimo, ofertado pela comunidade, é possível planejar investimentos em infraestruturas nos espaços celebrativos e comunitários; promover a catequese e outras modalidades de formação e capacitação dos agentes pastorais; agilizar a compra dos bens necessários ao bom encaminhamento da vida na comunidade; cumprir, com presteza, os compromissos financeiros e contábeis em todos os âmbitos, entre outras demandas de igual importância. Além de tudo isso, o dízimo de cada fiel gera uma rede de comunhão e de comprometimento com a evangelização, pois parte daquilo que foi reunido pelas comunidades e paróquias é destinado às ações evangelizadoras de toda a Diocese, o que amplia ainda mais os benefícios pastorais mantidos pelo dízimo. Somos Igreja, comunidade dos comprometidos com a evangelização!
A Igreja nasce para continuar a missão de Cristo de anunciar o Reino de Deus em todos os cantos do mundo, a começar pelos pequenos e pobres. Para isso, é preciso começar pelos que estão mais próximos de nós e ir avançando na missão de levar a Boa-Nova de Jesus. O dízimo tem um lugar de muita importância no desenvolvimento da missão da Igreja: por meio dele, o financiamento da formação de missionárias e missionários é possível, bem como o envio desses a muitos lugares, fazendo chegar a Palavra de Deus a muitos corações e contribuindo para a transformação da vida das pessoas. O dízimo deve sustentar financeiramente as ações de evangelização da comunidade exercidas dentro e fora do território da paróquia. Esse é o compromisso de evangelização e fidelidade ao projeto do Reino, que o dízimo garante e viabiliza. Faltando a consciência do aspecto missionário do dízimo, ficamos impedidos do envio de missionários para o trabalho, além fronteiras, do anúncio do Reino. É pelo compromisso que muitos cristãos e cristãs assumem, na efetiva e generosa oferta do dízimo, que a missão de anunciar a salvação do Reino chega aos povos do mundo inteiro.
Jesus veio trazer a Boa-Notícia do Reino a todos; contudo, começou anunciando aos pobres e a todas as pessoas marginalizadas de seu tempo. Em nossa própria missão, que nasce da missão de Jesus, somos responsáveis por cuidar de reconhecer todas as pessoas em sua dignidade, contribuindo para a melhoria da vida dos que são injustiçados e oprimidos. É preciso cuidar das pessoas, ajudando-as a crescerem integralmente. Afinal, “o que nos recomendaram foi somente que nos lembrássemos dos pobres […]” (Gl 2,10). Com o que é arrecadado com o dízimo dos fiéis, as paróquias e comunidades podem investir no cuidado para com os pobres, seja no amparo às questões mais essenciais à sobrevivência, tais como alimentos, medicamentos, seja nos investimentos em prol de sua capacitação profissional, educacional e cultural, entre outras coisas. As pastorais sociais são de grande importância para a vida comunitária e o que as mantém, além da dedicação dos seus agentes, é o compromisso de cada cristão e de cada cristã com o dízimo. Quem cuida dos pequenos cuida do próprio Cristo, o pobre de Nazaré.