Em algumas festas e solenidades da Igreja, é comum a realização de um Tríduo (período de três dias) em preparação. Pode-se fazer um tríduo para a festa do Padroeiro, para alguma festa dedicada a Nossa Senhora, etc.
PASCOM PSJVZ por: Amarildo B. – 31/03/2021 DESTAQUE ESPECIAL, SEMANA SANTA, TRIDUO PASCAL
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No entanto, o centro da fé católica é a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo e, portanto, o Tríduo Pascal não é uma preparação, mas é a própria celebração em si, a celebração da Páscoa é o auge do ano litúrgico. Somos chamados a co-memorar (fazer memória juntos) dos últimos dias de Cristo, sua morte e ressurreição.
Entre os séculos II e III, os cristãos se preparavam para a grande celebração da Vigília Pascal com dois dias de jejum. Com o amanhecer da Páscoa, a Eucaristia decretava o fim do jejum e o início do Tempo Pascal. No século seguinte, por meio de relatos de santos, já é possível verificar a preparação para a Páscoa durando três dias. Santo Ambrósio referia-se aos três santos dias (triduum illud sacrum) e Santo Agostinho falava da “Páscoa do Crucificado, do Sepultado e do Ressuscitado”.
Daí temos que o primeiro dia do Tríduo é a Sexta-Feira. No entanto, temos que lembrar que a nossa tradição litúrgica decorre do judaísmo que, considera que o dia se encerra ao pôr do sol. Sendo assim, a Missa Vespertina da Ceia do Senhor (a partir do entardecer da Quinta-Feira Santa) já pertence ao Tríduo.
Quinta-Feira Santa: início do Tríduo
Na Quinta-Feira Santa celebramos a instituição da Eucaristia e do sacerdócio. Na Páscoa judaica, Jesus celebrou com seus discípulos sua última ceia e, no decorrer da mesma, segundo os Evangelhos Sinóticos, determinou que em todas as vezes que comessem do pão e bebessem do vinho, os discípulos deveriam fazer memória de Seu sacrifício. A antífona de entrada nos convida a cantar que nos gloriamos na Cruz de Cristo e é cantado o Glória, como prenúncio do que está para acontecer na Páscoa.
Antes do Século IV, a memória da instituição da Eucaristia era feita em um momento anterior na Semana Santa. O rito do lava-pés, segundo relatos de Santo Agostinho, era feito fora da celebração da Santa Missa, sendo um rito suplementar. No missal de São Pio V, o lava-pés era prescrito para o final da celebração. A partir da reforma litúrgica de 1969, o rito do lava-pés passou para depois da homilia. Não se trata de uma encenação, visto que o rito nos ensina que Jesus (por meio do sacerdote), continua servindo à Igreja de hoje. O lava-pés é a concretização do mandamento do amor ao próximo. Neste ano, por conta da pandemia do COVID, será omitido o rito do lava-pés, conforme orientação da Igreja.
No início, as ofertas para o auxílio aos pobres, decorrentes do sacrifício quaresmal, eram apresentadas nesta celebração. Atualmente, no Brasil, somos convidados a fazer a coleta para a Campanha da Fraternidade, no Domingo de Ramos. Como na Sexta-Feira Santa não se celebra a Eucaristia (dia alitúrgico), era necessário que se conservasse o Sacramento da Missa de Quinta para ser distribuído aos fieis na Celebração da Paixão no dia seguinte. Por isso, o tabernáculo deve estar vazio ao início da celebração, para que as hóstias a serem consumidas na missa e no dia seguinte, sejam consagradas na mesma celebração.
Nos primeiros séculos, os fieis levavam para suas próprias casas as partículas que seriam consumidas. Com o passar do tempo, durante a Idade Média, passou-se a conservar a Eucaristia na Igreja e, com isso, adotou-se o costume de fazer o traslado da Eucaristia para as sacristias das Igrejas, sem qualquer solenidade. A partir do Século XI, passou-se a usar velas, incensos e cânticos para o traslado para uma capela de reposição, onde os fieis faziam vigília. O altar é desnudado.
Um ponto importante é que esta vigília em adoração é um desdobramento da Celebração da Missa e não seu ápice. A vigília deve possuir um caráter sóbrio, não há exposição do Santíssimo no ostensório, já que o foco não é a presença real de Jesus na Eucaristia. Estamos fazendo memória do Jesus no Horto das Oliveiras, em oração. Pode-se fazer a leitura dos capítulos 13 a 17 do Evangelho de São João.
A capela da reposição não deve representar um sepulcro, como já chegou a ser feito em outros tempos. Embora em muitas paróquias, esta vigília costuma virar a noite e seguir pelo dia seguinte, o mais correto seria seu encerramento à meia-noite, com outras propostas de devoções para a manhã da Sexta-Feira, considerando a ordem dos acontecimentos narrada nos Evangelhos (Liturgia das Horas, Via Sacra, ofícios, etc).
Sexta-Feira Santa: a Paixão e Morte do Senhor
Como escrevemos acima, a Sexta-Feira é um dia alitúrgico, onde não se ministra os sacramentos, exceto a Confissão e a Unção dos Enfermos. Também é um dia de jejum e abstinência de carne.
Desde o século II tem-se notícia da prática do jejum pleno e a não celebração da Eucaristia. O papa Inocêncio I (378-417) deixou registrado que, nesses dias, os apóstolos jejuaram, e que daí vinha a tradição. No início do Cristianismo, não havia um rito próprio para a Sexta-Feira Santa. Entre os séculos IV e VI, era realizada uma Celebração da Palavra, encerrada com oração solene pelos fiéis. A partir do Século VII, além da Celebração da Palavra, passou-se a adotar a comunhão pelos fieis.
A adoração da Cruz já era feita, pelo menos desde o século IV, em Jerusalém, desde a manhã até às 14 horas, antes da Celebração da Palavra. Em outras igrejas onde houvesse uma relíquia da Santa Cruz, também passou-se a realizar a adoração da Cruz. Em Roma, desde o Século VIII, havia a Celebração da Palavra às 14 horas na Basílica de Latrão, seguida de procissão até à Igreja da Santa Cruz, para a adoração. Após o rito, os fieis voltavam para a Basílica para o rito da comunhão.
O sacerdote e os ministros dirigem-se ao altar em silêncio. O centro da celebração é o relato da Paixão, onde não se usa incenso nem luzes. A Igreja nasce do lado de Jesus, de onde brota sangue e água.
É feita a oração universal pelos fieis, com intenções pela santa Igreja, pelo Papa, por todas as ordens sacras e por todos os fieis, pelos catecúmenos, pela unidade dos cristãos, pelos judeus, pelos não cristãos, por aqueles que não creem em Deus, pelos governantes e pelos atribulados. Neste ano, assim como em 2020, haverá uma oração especial pelas vítimas da COVID-19.
Após, é apresentada a cruz para a adoração dos fieis, o beijo da cruz que nos reconciliou com Cristo, com o cântico dos “impropérios”. Mesmo em assembleias numerosas, deve ser utilizada apenas uma cruz. Infelizmente, por conta da pandemia do COVID-19, o povo será convidado a realizar a adoração e suas orações de suas casas.
Após a adoração, é feito o rito da comunhão, mediante o traslado das hóstias da Missa da Ceia do Senhor. Após a distribuição da comunhão, a âmbula retorna ao local preparado fora da igreja, o altar é desnudado e a saída é feita em silêncio. A cruz, ou a imagem do Senhor morto e de Nossa Senhora das Dores podem ser colocadas em local próprio na igreja, para a oração pessoal dos fieis.
Sábado Santo: a Grande Vigília
Ao menos desde o século II, o sábado era o dia da sepultura, dia de jejum completo e também sem a celebração dos sacramentos. A partir da meia-noite, iniciava-se a grande celebração da Vigília Pascal que durava até o amanhecer do Domingo da Páscoa, não havendo mais nenhuma outra celebração. Com o passar do tempo, alguns dos ritos da Vigília passaram a ser adiantados e foi instituída uma missa para o Domingo de Páscoa, por isso, o Sábado é chamado de Sábado de Aleluia, embora o Aleluia, omitido durante toda a Quaresma, seja próprio da Páscoa e entoado somente após o anoitecer.
Quanto à Vigília Pascal, Santo Agostinho nos ensina que é a “mãe de todas as vigílias”, já Santo Astério diz que “é a noite que não conhece trevas, que espanta todo o sono e nos leva a velar com os anjos; noite pascal, por todo o ano esperada”. Desde o Século II, o rito, que, no princípio, era semelhante aos demais sábados, foi recebendo elementos de outras culturas e, até hoje, é constituído de quatro partes: Liturgia da Luz, Liturgia da Palavra, Liturgia da Iniciação Cristã e Liturgia Eucarística.
A Liturgia da Luz é o rito de abertura da Vigília, com a benção do fogo, de origem na Alemanha do século VIII, provavelmente incorporando costume de outros povos. Após, segue-se o acendimento do Círio Pascal, símbolo que fazia parte da Vigília Pascal desde os primeiros séculos, significando Cristo Ressuscitado, iluminando as trevas. Entre os séculos VIII e IX, foram acrescidas ao Círio a primeira e a última letra do alfabeto grego (alfa e ômega) e a frase: “Cristo ontem e hoje, princípio e fim”. O Círio deve ser novo, a cada ano e somente sua luz ilumina a procissão de entrada na igreja, que depois é passada para as velas dos fieis. Também é feita a proclamação da Páscoa com o Exsultet, que significa “alegre-se”, e que é um hino cantado desde a primeira metade do Século IV, em louvor a Cristo no Círio Pascal.
A Liturgia da Palavra traz leituras que fazem uma “revisão” dos principais fatos da vida do povo de Deus, desde a criação do mundo até a Ressurreição, por meio de leituras e salmos, onde cantamos a história da Salvação. Nos inícios o número de leituras variou de quatro a doze, sendo que, na última reforma litúrgica passaram a ser nove. Os salmos não devem ser trocados por canções populares e, caso seja necessário reduzir o número de leituras, como neste ano, devem ser lidas, pelo menos, três leituras do Antigo Testamento, sendo que a leitura do Capítulo 14 do Êxodo não pode ser omitida. Após a leitura do Novo Testamento, é entoado o Aleluia, por três vezes, intercalando com o Salmo 117, muito mencionado na pregação dos apóstolos.
Desde o século II, a Vigília Pascal era a celebração, por excelência, dos sacramentos da Iniciação Cristã. É a festa da incorporação de novos membros ao Corpo de Cristo e renovação da promessa daqueles já batizados. Na Liturgia da Iniciação Cristã, mesmo que não seja realizado batismo no dia, deve ser feita a benção da água batismal e a renovação das promessas do batismo pelos fieis e a aspersão da água pela assembleia. Pode ser rezada ou cantada a ladainha de todos os santos, para simbolizar o novo nascimento nas águas em Cristo, junto com suas testemunhas.
Por fim, a Vigília Pascal é a festa eucarística, onde todos participam da vitória de Cristo sobre a morte, partilhando o pão da eternidade e o vinho da festa do Reino, que um dia será plena. Para a Liturgia Eucarística, recomenda-se que os recém batizados, se houver, participem da procissão com as ofertas e a distribuição sob as duas espécies. Ao final da celebração, deve-se incluir o “Aleluia”, repetido por três vezes, para nos introduzir ao Domingo da Ressurreição e o Tempo Pascal. “Este é o dia que o Senhor fez para nós (Salmo 118).
Domingo de Páscoa
A partir do momento em que a Vigília Pascal começou a se concluir antes da meia-noite do Sábado, começou a ser realizada a missa no Domingo de Páscoa (século IV). Ao entardecer do Domingo de Páscoa, encerra-se o Tríduo Pascal e entramos na Oitava da Páscoa.
Somos chamados a cantar o Dia da Vitória, o Dia do Senhor. A missa deve ser celebrada com grande solenidade. Neste dia, o Ato Penitencial deve ser substituído pela aspersão com a água benzida na Vigília Pascal. Propõe-se a leitura do Evangelho de São João sobre o encontro do sepulcro vazio. A primeira leitura, durante todo o Tempo Pascal, vem dos Atos dos Apóstolos. É cantada a Sequência Pascal, composta no século XI.
O Círio Pascal deve estar junto ao ambão ou perto do altar, devendo estar aceso, pelo menos, nas celebrações litúrgicas mais solenes deste tempo.
Vivendo o Tríduo Pascal, somos convidados a morrer com Cristo, mas também a ressuscitar com Ele, unidos ao Mistério de nossa Salvação em sua totalidade, por meio de nosso Batismo.
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